Bloco do Barril e Carnaval de São João Nepomuceno


Comentário sobre o Bloco do Barril – São João Nepomuceno MG


A primeira vez que desfilei no Barril foi em 1985, tinha apenas 7 anos. Inicialmente, sempre mascarado, pois até então não concordava com ideia de vestir de mulher (risos). Naquela época, o Barril já era um grande atrativo de nosso carnaval, não o principal, mais um dos mais importantes. Tínhamos também a presença das Escolas de Samba (elas eram a atração principal) junto a outros blocos como Girafa, São José, Centenário, Garoa, São Cristovão entre outros. Os bailes de carnaval nos Trombeteiros, Democráticos e Operário levavam os jovens e adultos para tremendas viradas de noite.

Sempre gostei de carnaval, aliás, minha família toda. Meu pai, o Sr José da Silva, mais conhecido como Zé Juquinha foi presidente da ESACA (Escola de Samba Avenida Carlos Alves) em 1987,1988 e 1989. Com tempo, criei a coragem de travesti para o bloco, (risos), isso com 15 anos de idade. E desde então nunca mais perdi essa mania. Fui eleito Rainha em 2005 e fiquei responsável pelo desfile de 2006. É um peso e tanto, como diz o meu amigo Geraldo Rabello, que também já foi Rainha (1995): "Rainha por um dia e escrava por um ano" rsrsrsrs...

Sobre o Barril:

Em conversa com amigos gosto de dividir algumas fases desse grande bloco:


1º fase: 1973 até 1984: de sua fundação até a entrada de Kassinho como Rainha.
No início, era apenas uma brincadeira de amigos, coisa de 30 pessoas e chega ao início dos anos '80 com mais de 1000 foliões. Até 1981o título era Rainha Garbosa e somente depois Rainha do Barril. Tinha uma proporção menor de pessoas e por isso uma identidade tipicamente sãojoanense. As músicas ficavam por conta de sambas enredos (RJ) e marchinhas.

2º fase: 1985 até 1991: O Barril conhece uma Rainha histórica, Kassinho. Ele inovou o Barril em vários aspectos. A obrigatoriedade das Rainhas usarem tamancos plataformas, carro alegórico para a atual Rainha e perucas diversas, cores, vestidos caricatos e etc. A brincadeira começa a tornar o grande atrativo de nosso carnaval, prendia a atenção da cidade para deslumbrar as beldades que desfilavam pelas ruas do centro da cidade. Kassinho trouxe o luxo e a criatividade, mas nada que "arrancasse" a identidade do bloco. Mais tarde, Tonho Machadinho foi a primeira Rainha a desfilar com um carro de som (espécie do que seria hoje o Trio Elétrico). Milhares de homens e mulheres usando figurinos contrários. O nosso carnaval ainda reinava a base sãojoanense, pois os turistas em sua maioria, eram de parentes que viviam em outras localidades.

3º fase: 1992 até 2000: Não podemos deixar de citar que temos o início de um novo estilo de se fazer carnaval em São João Nepomuceno. O carnaval de rua. Um dos primeiros a utilizar desse recurso no estado. O estilo baiano de comemorar a grande festa de momo, trouxe o axé como o ritmo oficial do carnaval. Um novo conceito para aquela cidade que projetava nas suas Escolas de Samba o “jeitão” Rio de Janeiro tão próximo daqui, mas que se orgulhava de tocar marchinhas e os hinos dos nossos clubes em longos bailes. Existiu, é lógico, resistência, mas nada que impedisse o novo estilo adotado, que mais tarde terminara com os bailes de clube. Começou daí uma atração turística de todas as partes do país, não necessariamente de parentes, como vinha acontecendo há anos. Nossa cidade começa a receber um número de turistas acima do esperado. O barril que já trazia um ibope positivo é abraçado por esses novos foliões de nossa cidade. Temos então, dois pontos de vista:

- Positivo: a cada ano, o bloco começa a "bater recordes" no que diz respeito ao número de foliões. Isso causa uma maior divulgação do carnaval e o comércio local tem uma grande oportunidade de faturamento. Pessoas que por ventura passam seus carnavais em cidades vizinhas a Garbosa, em especial apreciam a nossa festa na segunda-feira. Nepopó City fica super lotada por conta disso. Por esse motivo, o nome São João Nepomuceno é confundido ao carnaval.

- Negativo: Identidade sãojoanense. Cadê? Eis o problema. A ideia central do Barril é travesti de mulher. Trazer para o carnaval sua criatividade e de preferência, glamour! O nosso carnaval recebe muitos turistas, até que demais (risos). Quero deixar claro que todos são bem vindos, mas o que não pode é perder o nosso jeitinho de fazer carnaval e não admitir tantos “xixi’s” nas ruas. Por favor!

4º fase: 2001 até os dias atuais: Em cena o funk carioca. Esse ritmo envolvente que nasce nos morros do rio de Janeiro, disputa música a música o espaço sonoro de nosso carnaval com o axé. Aqueles resistentes agora pedem o axé, ao invés do funk...rsrsrs... Loucura né! Pois é carnaval! A turma do Bonde do Tigrão começou a invadir a praia dos foliões e “martela, o martelão!” Depois foi a Eguinha Pocotó,Vai Lacraia, Creu entre outros vários vencedores do Gramy Awards (prêmio máximo da música, uma espécie de Oscar)...rsrsrs... Uma nova era de sonorização começa: O som automotivo. Devido a potentes caixas de som que hoje em dia podem ser instaladas nos carros e diga-se de passagem, alguns são melhores e mais potentes que muitos trios elétricos, o bicho pega,literalmente. O Barril não diferente acompanha tudo isso e o funk também é tocado no seu trio elétrico, além dos carros que ficam estacionados na concentração distraindo muitos foliões que chegam a perder a saída do bloco. Atualmente, torna-se polêmico a permissão desse ritmo em nosso carnaval, devido a desconfiguração e problemas (brigas) em anos anteriores. Em 2010, a Câmara dos Vereadores aprovaram lei para a proibição das músicas do funk e também sons automotivos. A Prefeitura além de gastar uma boa grana de apoio à festa tem de contratar vários banheiros químicos pela demanda dos “xixi’s”.

As Rainhas atuais tem de se preocupar com Abadás, tem que ter, pois é a única maneira viável para a participação de casais e até mesmo crianças, sem correr algum risco de pisoteio e briguinhas. Eu não abomino o bloco, simplesmente faço um comparativo com tempos atrás, mas sabemos que o planeta gira e com ele todos nós, nada se perde, tudo se transforma, o Barril está em transformação, a cada ano moldando para receber mais pessoas e novidades. As ex rainhas do bloco, analisando esses termos abriram uma Associação do Bloco do Barril em 2007 e com ela, discutir prováveis mudanças.

Eu digo que o Barril engordou. Assim como eu. Fui atleta, esbelto e com o passar do tempo deixei de jogar e foi difícil segurar a “barriguinha”. O Barril engorda cada vez mais e fica difícil não receber os turistas. O que tentamos aqui em São João é conscientizar a importância de participar do "Arrasta multidões", formando grupos masculinos, femininos e mistos para o desfile, todos fantasiados, claro!

A Rainha reina, salve a Rainha.

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